segunda-feira, 24 de maio de 2010

O predador, personagens tipo e filmes com mais de 2 horas

Hoje revi "O predador", filme clássico dos anos 80 (1987), lançado numa das épocas áureas do cinema de ação norte-americano, e essa destruidora película me levou (além de a uma catarse intensa) a algumas reflexões.

Primeiramente, não me deixou de vir à mente a sempre tão comentada falta de talento do protagonista do filme, o ator Arnold Schwarzenegger. "Ele não tem qualidade", "Ele só faz o mesmo papel", "Até em Júnior ele parece o Exterminador do Futuro", são os comentários que quase todo mundo faz, de críticos especializados a pessoas de senso comum em geral. Mas a grande questão é que Arnold não é realmente um ator por formação. Ele foi fisiculturista, miss universo, e depois de algum tempo, com uma nova explosão dos filmes de ação, ele conseguiu alguns papeis para estrelar os seus músculos nas telonas. No entanto, esse ainda não é ponto que defendo com relação à "atuação" do austríaco em filmes como "O exterminador do futuro", "Comando para matar" ou "O predador". A verdade é que esses personagens são o que na literatura é classificado como "personagem tipo", ou seja, um determinado personagem que tem a função de representar uma idéia geral, um tipo genérico dentro da sociedade. As peças do dramaturgo Gil Vicente são repletas desses tipos, como o padre, o prefeito, o viúvo, a prostituta, que não representam especificamente uma personalidade profunda e desenvolvida, mas sim um indivíduo genérico. No caso de Schwarzenegger sempre lhe escalaram para fazer o mesmo personagem tipo, que é o do homem durão, o ser bruto, o imbatível. E não se pode negar que sua aparência austríaca mal encarada, seu corpo monstruosamente musculoso e a voz grave não se encaixavam dinamicamente com esse gênero humano social. Ele era perfeito para a coisa. Por isso defendo que personagens como o exterminador e o major Alan Dutch foram muito bem construídos por/para o Arnold, ninguém faria melhor o papel do homem aniquilador de homens. E é isso que é ser um herói de filmes de ação, é isso que é necessário para explodir carros em alta velocidade.

Voltando a"O predador" pretendo comentar sobre a construção estrutural do filme, que é, sem sombra de dúvidas, impecável. Nos primeiros 10 minutos de filme toda a história é explicada: quem são aqueles homens que chegam de helicóptero, onde eles estão, por que eles estão ali e o que vieram fazer. Através de um curto diálogo entre o major Dutsh e o general que o contratou, o espectador fica ciente de toda a história, ele é inserido rapidamente no enredo, na trama, e passa então a aproveitar o desenrolar das ações. Os roteiristas dos anos 80 eram profissionais em fazer isso, começar bem um filme, introduzir de maneira sucinta, para que não ficassem sobras enfadonhas e sem sentido na película, sobrando somente o espetáculo, a ação. O filme nos apresenta 7 soldados, cada um com uma característica "típica" que o demarca na trama: Major Dutch é quem comanda a tropa, mal encarado e durão, fumando charutos e falando pouco; Dilon é o sempre malandro, mas não menos bruto, ex-companheiro de guerra do personagem de Schwarzenegger, que entra no filme como complicador da situação e também como referência ao passado do incógnito (como todo bom herói de ação) personagem principal; Sargento Mac e Sargento Blain é a dupla de brutamontes que passa por cima de qualquer dificuldade, não é à toa que são eles que carregam e descarregam a minigun utilizada pelo pelotão; Hawkins é o recorrente soldado nerd, sempre com uma revista na mão, usando óculos e contando piadas em momentos inoportunos, participa mais (tradicionalmente em filmes desse tipo) como cérebro do que como corpo da equipe; Tenente Poncho, o latino simpático e valente, sempre metendo a cara onde não é chamado e pronto pra destruir um acampamento cheio, sem perder o sorriso no fim das contas; e por último, mas não menos necessário e destruidor, o descendente de índios, Tenente Billy, mais um que integra a sessão bruta do pelotão, mas esse tem sempre um ar mais espiritual, mais sensitivo que os outros, o homem que transparece honra e que prefere lutar com facas. Esse é o time que está perdido na selva para confrontar uma ameaça desconhecida, um predador insaciável.

O filme mistura ação, ficção-científica e terror (nas tomadas noturnas principalmente, onde a música tensa e a pouca visibilidade transportam o espectador para dentro da selva assassina com o pelotão). É uma obra-prima do cinema de entretenimento estadunidense. A ação na trama não para, sempre ágil, deixando os momentos mais lentos para a construção de um suspense denso. Seqüências de explosão, de destruição em massa, homens esquartejados, são partes integrantes da ação no enredo. É como uma dança com a morte, como estar acuado e esperando o ataque indefeso, sem ter como reagir até o último momento, quando os dentes do caçador já estão a meio centímetro da sua pele. O filme todo metaforiza a sensação da presa, e divide esse sentimento em dois momentos, que compreendem duas distintas reações: O medo e o recuo, quando no começo do filme os personagens constroem um esconderijo protegido, para tentar escaparem ilesos da situação; e a reviravolta, quando já perto de ser assassinado pelo predador, em seus últimos momentos, a presa se volta contra aquilo que a caça e resolve lutar por sua vida até o fim. Uma majestosa e extremamente empolgante representação do comportamento instintivo da caça e do caçador. O homem sem esperança é o homem sem medo. O homem sem esperança é o único que pode encarar um predador desconhecido munido de uma arma assassina alienígena e dizer "você é um filha da puta muito feio", com as mãos limpas, diga-se de passagem. "O predador" tem 1h e 42min de puta adrenalina, e não deixa os espectadores desgrudarem da cadeira em nenhum momento. Os 10 minutos finais parecem uma eternidade quando você se coloca na pele do Major Dutch à espera daquele que o caça. Magnífico no tempo preciso e bem delimitado, no enredo simples e contagiante, no texto compacto e cheio de ação (afinal de contas é um filme de ação).

E falando em precisão no tempo dos filmes, eu gostaria de ainda comentar uma tendência porca do cinema moderno de ação, que são os filmes com mais de 2 horas de duração. As produções atuais do gênero estão tão preocupadas em explicar os porquês dos personagens, das situações, dos envolvimentos da trama, que se esquecem do fundamental: AÇÃO. Um filme como "O homem de Ferro", que tinha tudo para ser um excelente filme de ação (inclusive uma qualidade maior de efeitos especiais e de atuação, teoricamente), termina se transformando em um conto sobre a vida de Tony Stark. Conta os porquês da armadura, mostra a motivação do personagem, mostra a construção do herói, mas cadê a ação? Cadê a grande motivação da história? Onde está o vilão imponente e destruidor? O filme mostra até a vida do vilão antes de se configurar como um inimigo realmente. Perda de tempo que torna o filme maçante e sem clímax, deixando somente para o final, que ainda foi muito mirrado e sem graça no caso desse filme, as partes de ação e violência. Pelo amor de deus... "A lista de Schindler" pode ter mais de 2 horas, "Star Wars" pode ter mais de 2 horas, "O gangster" pode ter mais de 2 horas, "O poderoso chefão" pode ter mais de 2, 3, 4, 5, 6 horas se quiser, mas "O homem de ferro" não precisa disso tudo. A boa e velha hora e meia já é suficiente para o bom filme de ação. A não ser que você faça um filme da magnitude estética e narrativa de "Batman - o cavaleiro das trevas", que teve sim história e ação para mais de 2 horas, não vale a pena ficar enchendo rolo com cenas pacatas sobre o porquê do Tony Stark ter resolvido virar o Homem de ferro. Filmes de ação são filmes de AÇÃO.

"O predador", assim como seus colegas de época, "Duro de matar" e "Rambo", é um exemplo de narrativa envolvente, interessante e bem construída. Não adiante dizer que o Schwarzenegger não sabe interpretar Hamlet, nem que os efeitos especiais de Avatar são bem melhores (bons tempos em que o Cameron fazia filmes com bons enredos, e não pocahontas bilionárias), porque nenhum filme atual chega a superar a marca de concretude, de sintetização, de entretenimento e tensão que esses velhos filmes dos anos 80 que a sessão da tarde fez o favor de popularizar (no sentido bom da coisa). Se você está com vontade de se divertir, de botar um filme no dvd e ficar grudado na tela pelas próximas 1 hora e 30/40 minutos, não vá perder tempo alugando essas superproduções atuais. Vá à sessão de catálogo e procure filmes como esse. Garanto que nenhum "Homem de ferro" vai ser mais "alucinante" (já que estamos falando dos anos 80) do que o homem dos músculos de ferro lutando contra um predador alienígena.

sábado, 22 de maio de 2010

Editorial - O sentido da vida

Uma senhora sentada numa poltrona recebe um envelope dourado, abre-o, e lê:
"Eis aqui o sentido da vida. Não é nada especial: Tente ser bom com as pessoas. Evite comer gordura. Leia um bom livro de vez em quando. Tente andar um pouco e viver em paz e harmonia com gente de todos os credos e nações".

por: Monty Python's Flying Circus